Empreendedorismo: o desafio de cuidar de mais de um negócio
15/10/2019
Se administrar uma empresa já é uma tarefa complicada, imagine várias? Mesmo com todo o desafio da administração no setor de franchising, o movimento dos franqueados que gerem mais de uma unidade continua a se aprofundar.
Em 2019, o volume de redes que têm este modelo atingiu 82%, contra 74,5% em 2018, de acordo com a pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (AB7). Segundo a pesquisa, a participação das unidades administradas por multifranqueados é de 32%.
Denis Santini, sócio-diretor do grupo MD, especializado em comunicação de franquias, relata que o crescimento interno das redes se intensificou com a crise econômica: as franqueadoras voltam suas energias para o fortalecimento dos seus atuais parceiros. Este fenômeno aconteceu nos Estados Unidos , onde grupos de multifranqueados faturam milhões — 55% dos franqueados têm mais de uma unidade de franquia.
— Com mais de uma operação, o franqueado consegue ter mais economia em escala. Se os negócios iam bem com apenas uma operação, agora, em momento de desaquecimento, ele precisa ter mais de uma para conseguir o mesmo resultado — afirma ele.
Fabiana Estrela, diretora de capacitação da ABF, lembra que, para crescer, o franqueado precisa se preparar pois, com mais de uma unidade, é obrigado a ter grande retaguarda em questões financeira, de gestão de pessoas e de marketing, por exemplo. O planejamento financeiro também não pode ser esquecido.
— Muitas vezes, ele abre a primeira franquia com o dinheiro de uma rescisão trabalhista ou continua trabalhando no emprego formal até que o negócio ganhe corpo. Quando vai para a segunda, não tem mais este “plano B”, não há fluxo de caixa . Há muitos casos de franqueados que iam bem com uma unidade e, quando decidiram abrir duas ou três, acabaram quebrando. É um processo que deve ser feito com muito cuidado, tanto pelo franqueador quanto pela franquia.
Ser “multi” não é para todo mundo. O empresário precisa desenvolver diversas competências e passa a ser mais um gestor do que um operador da rede.
O operador ou “barriga no balcão” , aquele empresário totalmente dedicado a uma unidade, não funciona para quem quer ter mais de um negócio, explica Mauro Nomura — CEO do Grupo Nomura, que é formado por mais de 29 unidades das marcas Adidas, Arezzo, Schutz e Saltô em três estados, e que tem um faturamento de R$ 170 milhões.
— Ele só tem um umbigo e mais de um negócio — brinca ele, que completa:
— Por este motivo, é preciso ter um perfil mais gestor e profissional. E com a ajuda da tecnologi a para monitorar o desempenho de cada loja — afirma.
O perfil centralizador também não tem bom desempenho neste modelo, diz Alberto Oyama, diretor de multifranqueados da ABF.
— Se ele não conseguir delegar , na terceira unidade não vai funcionar. O franqueado precisa montar três times muito bons, com profissionais preparados para gerenciar o negócio —lembra ele.
De acordo com o levantamento da ABF, 40% das redes têm franqueados multimarc a (que gerem mais de uma unidade de mais de uma marca), sendo que a maioria trabalha com duas a quatro marcas.
No caso de Oyama, são quatro marcas de diferentes segmentos (L'Occitane, Mr. Cat, Açaí Concept e Escola de Formação de Vendedores). Ele buscou diversificar os segmentos para não ficar dependente da volatilidade de cada setor.
— Quem tem unidades de marcas diferentes acaba com mais opções para driblar momentos de crise —acredita ele, que participou ao lado de Nomura e de Santini de um painel sobre multifranqueados na convenção da empresa Rockfeller, que aconteceu em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Os próximos anos prometem ser desafiadores para o professor de inglês Rodrigo Fernandes. Franqueado de três escolas da rede de idiomas Rockfeller, na Grande Florianópolis, nos próximos anos ele pretende abrir mais três unidades.
No momento, sua rotina semanal é ficar três dias na sede e um dia em cada loja. Com mais unidades, ele sabe que não conseguirá seguir tão presente.
— Na primeira escola, você fica mais focado no dia a dia da operação e se envolve muito de perto com problemas pontuais. Com mais operações, seu foco é mais o planejamento e o acompanhamento dos dados — afirma Rodrigo.
Na visão do sócio franqueador da Rockfeller, André Belz, os multifranqueados ajudam a profissionalizar mais o negócio.
— São pessoas que têm uma visão mais ampla do negócio por precisar estar a par de assuntos como finanças, estoque e gestão de pessoas. E este conhecimento ajuda a rede como um todo, pois processos e novas ideias podem ser compartilhados com os outros franqueados —diz.
Com 15 anos, a rede de idiomas vai fechar 2019 com 70 escolas espalhadas pelo Brasil, a maioria no Sul do país. Atualmente são sete multifranqueados.