Empreendedorismo cresce acima de emprego e ocupação
17/07/2019
A recém-criada fábrica brasiliense Origem se prepara para entregar, no próximo mês, uma frota de 50 motos elétricas para atender empresas de entrega de encomendas que utilizam serviços de motoboy. As motos terão arranque equivalente a um modelo convencional de 300 cilindradas, mas velocidade limitada a 60 quilômetros por hora (km/h).
A ideia dos empreendedores é alugar as motocicletas, já seguradas, a um custo fixo garantindo o fornecimento e trocas de baterias, uma vantagem em tempos de alta do preço dos combustíveis, como a gasolina. Estações para recarga serão instaladas em percursos usuais. A manutenção mecânica da frota, assim como a telemetria para rastreamento e gestão do uso das motos, será feita pela fábrica fornecedora.
— É um excelente momento para iniciar esse empreendimento — garante Diogo Lisita, 30 anos, um dos três sócios fundadores da empresa que administram o negócio. “Quando leio notícias de que o país está em recessão, eu enxergo como responsabilidade minha ajudar o país a sair da crise”, disse ao comentar que a linha de produção tem dez engenheiros trabalhando diretamente nas motos e deverá contratar mais gente. A empresa tem autorização fiscal para se instalar na Zona Franca de Manaus.
A fábrica de Lisito e sócios forma o contingente de empresas inovadoras, definidas como startup: iniciativa de baixo custo e de base tecnológica, cujo modelo de negócio tem potencial de ganho de escala. Essas empresas estão surgindo no país em um momento em que muitas pessoas comuns tentam a oportunidade de ter um negócio próprio em época de alta do desemprego.
Segundo o Portal do Empreendedor – MEI, no início do mês de julho, cerca de 185 mil microempresários haviam optado pelo sistema de recolhimento de tributos em valores fixos mensais (abrangido pelo Simples Nacional). O número é 19% acima do verificado em fins de dezembro do ano passado - crescimento bastante superior ao aumento do emprego formal entre dezembro de 2018 e maio de 2019 (0,91).
Entre dezembro e julho, o número total de microempreendedores individuais passou de 7,7 milhões para mais de 8,5 milhões de pessoas (alta de 10,9%). Em período próximo, a taxa de desocupação do IBGE (emprego formal e informal) aumentou de 11,6% (trimestre outubro a dezembro de 2018) para 12,3% (trimestre de fevereiro a abril de 2019). No primeiro trimestre de 2019, a economia teve oscilação negativa (queda de 0,2% do PIB).
Crise e empreendedorismo
Para o assessor especial do Ministério da Economia Guilherme Afif Domingos, o crescimento do número de empreendedores tem a ver com a procura de alternativas para obter trabalho e renda.
— Na verdade, são empreendedores que estão trabalhando por conta própria, porque emprego, no sistema tradicional, está raro e vai ser muito raro daqui para frente — prevê.
Afif avalia que a hora é oportuna para superar dificuldades.
— No momento de crise, você encontra pessoas dispostas a arriscar sair da zona de conforto para buscar alternativas para própria sobrevivência. Portanto, a crise é alimentadora de atitudes empreendedoras.
O diretor-superintendente do Sebrae no Distrito Federal, Valdir Oliveira, concorda com o assessor ministerial e acrescenta:
— olhamos para crise e vemos recessão e desemprego. O empreendedor vê oportunidade. O dinheiro não some. O dinheiro muda de mão.
Momento propício
O dirigente do Sebrae avalia que as empresas são criadas para atender demandas das pessoas e da sociedade.
— Toda empresa existe para resolver um problema, o problema do cliente. Como alguém que abre uma lanchonete para resolver a alimentação de quem não pode comer em casa.
Nesse sentido, o momento pode ser bastante propício
— Hoje nós temos uma pluralidade de problemas muito grandes. Há muitas oportunidades — sublinha Ênio Pinto.
A visão do gerente do Sebrae de associar a atividade econômica das empresas à busca de solução de problemas enfrentados pela sociedade é ilustrada na história de algumas iniciativas e na fala de alguns empreendedores em início de carreira entrevistados pela Agência Brasil.
No caso da Mi Petit, pequena empresa que produz comida para crianças, conforme cardápio recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pelo Ministério da Saúde, a preocupação é oferecer qualidade nutricional, conforme demanda dos pais.
— É uma demanda das famílias. A obesidade infantil tornou-se pandemia — descreve Valéria Freitas, que antes de se juntar à nutricionista sócia da empresa para cuidar de alimentação infantil trabalhou no Brasil e no exterior como engenheira da área de telecomunicações.
A empresa, em funcionamento há dois anos, tem duas lojas em áreas nobres do Distrito Federal e contrata nove empregados que preparam e vendem cardápio de 41 pratos para almoço ou jantar, cinco sobremesas e dez tipos de lanches.
A administradora de recursos humanos Roberta Lopes é outra empreendedora que tem as crianças como clientela final. Em vez de comida, no entanto, seu negócio, chamado Mundo de Lívia, cuida do divertimento e desenvolvimento infantil. Ela criou uma pequena empresa para aluguel de brinquedos para crianças na fase inicial de desenvolvimento cognitivo.
Roberta Lopes conta que com o aluguel de brinquedos as mães incorporam espírito de compartilhamento e acabam economizando 70% dos gastos que teriam se a cada etapa de desenvolvimento substituíssem o estoque de brinquedos.
— As mães compram brinquedos em 10 meses e as crianças usam só por dois meses — compara.
A pequena empresa, que dispõe de 170 brinquedos para aluguel, ainda funciona na residência de Roberta e já deu emprego a uma pessoa.
A design Jussara Pelicano Botelho e outras duas sócias também já contrataram uma funcionária em um negócio que começa a engatinhar: há mais de um ano, elas criaram um aplicativo para atender mulheres de todas as idades que querem viajar sozinhas, em segurança, e com poucos recursos.
A plataforma liga viajantes e anfitriãs em 75 cidades brasileiras e já reúne uma comunidade com mais de 3 mil mulheres.
— Elaboramos um produto que está resolvendo problemas reais — descreve.
Fonte: NSC